domingo, 1 de novembro de 2009



Exposição à Cordoaria Nacional

Máquina/ Tecnologia/ Ciência

A exposição Arte e Ciência patente na Cordoaria Nacional mostra de maneira radical a fusão entre arte e ciência. Existe uma ligação directa entre estas duas disciplinas, e existe, também, criatividade e inovação, no que consta à originalidade para a resolução de problemas de índole artística e científica.
Os trabalhos apresentados denotam pesquisa pormenorizada de
diferentes áreas científicas, como por exemplo, a química, a física, a cinética, robótica, a biologia, a medicina etc.
Considero que este tipo de expressão artística tem a meu ver, os seus prós e contras, no sentido em que, se por um lado, contribui positivamente para a abertura de novos parâmetros e experiências artísticas permitindo questionar a relação existente, ao longo de vários séculos, entre a arte e a ciência e permitindo também explorar novas temáticas dentro do universo vasto da ciência, mas, por outro, pode levar à diluição total (como já aconteceu, ou tem vindo a acontecer lentamente desde a segunda metade do séc. XX) entre as várias áreas do conhecimento, quer seja entre a arte, a ciência, a engenharia etc.
Significa que considero importante a comunicação entre as diferentes matérias e linguagens (as transtextualidades), mas considero que também é necessário, a meu ver, existir algumas fronteiras entre os ramos do saber, sob perigo de hibridismo total (diferente de influências/fusão entre áreas, pois penso que são coisas diferentes), perda de identidade e de referências sólidas. È o mesmo que se passa com o fenómeno ‘aldeia global’ que alterou, com vantagens e desvantagens a nossa maneira de viver.
Senti que a arte foi ‘abafada’ pela ciência nesta exposição. Nota-se alguma criatividade, invenção e espírito de pesquisa nas obras expostas. No entanto muitas das experiências patentes na Cordoaria Nacional já foram realizadas, anteriormente, de modo semelhante pela ciência. Algumas das obras são ciência e medicina pura. Penso que falta aliar de modo mais evidente o mundo interior, isto é, a experiência única e sempre surpreendente de cada artista com o universo da ciência.
É verdade que a arte hoje em dia é bastante diferente do que era no início do séc. XX, bem como a sociedade, mas penso que o maior desafio será conservar algo de único e de pessoal e ter a agilidade de ligar o nosso eu às diferentes áreas do conhecimento.

Tirando como exemplo a robot arte de Leonel Moura, o artista explica que a criação dos robots que fazem arte é uma maneira de tirar a centralidade do pensamento humano, pois os robots criam algo que é independente do controlo humano.
Considero que o que o artista prevê é um descrédito do Humano, o descrédito das capacidades humanas (com alguma razão), no que diz respeito aos problemas essenciais com que a humanidade se depara e que parece não haver resposta. As guerras, as injustiças, o descrédito da capacidade do Homem combater a morte entre muitos outros problemas muito complexos, faz com que o nosso foco de atenções se dirija cada vez mais para ‘criaturas/seres’ alternativos e perfeitos. Por outro lado, revela a insegurança e o medo tremendo que o ser humano tem (desde sempre, como exemplo dou a teoria geocêntrica) de perder o controlo sobre a natureza e sobre os outros; o Homem sente-se desprotegido.

Penso que, apesar das minhas reticências em relação à arte e ciência (pelos motivos que já apresentei) sempre houve uma ligação muito profunda entre a arte e especificamente a medicina. A medicina trabalha essencialmente com o humano, é o seu total foco de interesse, e debate-se com muitos problemas, nomeadamente com a relação entre a vida e a morte, as questões éticas, trabalha essencialmente com o sofrimento humano. A arte, ainda que aborde estas temáticas de uma maneira diferente da medicina, também caminha ao lado desta disciplina com preocupações comuns.
Diferem, a meu ver, hoje em dia, pois só posso falar da minha experiência, ou pelo que capto das experiências dos outros, no método, na abordagem dos problemas, nos objectivos e na especificidade própria da área.
Todas estas questões são importantes para mim, também me questiono sobre estes assuntos, ainda que inconscientemente; muitas vezes...

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