segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

CAMB


Numa visita que fiz ao CAMB observei as obras de Lourdes Castro e Eduardo Batarda, pelo que apreciei a qualidade plástica destes artistas.

Ao que me parece, Lourdes Castro subverte o(s) referente(s) original(s), anulando a experiência ‘vivida’ dos elementos que retira para a elaboração das suas propostas visuais, criando ambiguidades ao nível da percepção. Os objectos/ elementos não são representados no seu todo, apenas em parte, isto é, nunca se dão a ver na sua totalidade, como é visível no ‘silêncio’ das sombras que ocultam e revelam simultaneamente a identidade das coisas representadas. Por vezes, temos a sensação que ‘as personagens’ existem em tempos e espaços diferentes, não só porque a artista nos dá a ver formalmente planos distintos através do efeito de positivo-negativo, transparências, sobreposições de placas de vidro, papel etc, mas também porque as suas personagens e(ou) objectos exprimem um lado meditativo, espiritual.




O que eu mais aprecio na obra plástica de Loudes Castro é precisamente esse outro lado, esse outro refúgio pessoal, em que os seres se colocam ‘na sombra’, ou seja, na sua intimidade, em privado, manifestando figuras frágeis, meditativas e à procura da sua identidade. Não considero que as formas estejam ausentes, estão apenas ausentes para nós e não para elas, no sentido em que não estão disponíveis para dialogar connosco no espaço e tempo presente, pois estão recolhidas numa dimensão própria, isto é, no seu tempo e no seu espaço. Há uma cortina como nos bastidores que separa o plano das aparências e o plano da profundidade







Aprecio particularmente os trabalhos de Eduardo Batarda dos anos 80 e 90, os acrílicos sobre tela.



Penso que é interessante a apropriação plástica que o artista faz da letra, explorando a sinuosidade gráfica, numa linguagem ‘labirintica’ e muito própria. As suas pinturas sugerem-me espaços obsessivos, donde surgem elementos fantasmagóricos que são formados por essa continuidade de linhas que se enleiam e que não têm fim.



O espectador sente-se como que perdido nesse sucessivo emaranhado de linhas que sugerem vários níveis de profundidade espacial. A memória da letra, bem como a memória dos fragmentos de palavras (situações vividas) parecem estar presentes num espaço conpulsivo/obsessivo, criando o artista um discurso gráfico particularme
nte rico.


Sem comentários:

Enviar um comentário